Obstrução Parcial do Canal Lacrimal: O Que é e Como Tratar

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O Que é a Obstrução Parcial do Canal Lacrimal?

A obstrução parcial do canal lacrimal  (ou Impermeabilidade Nasolacrimal) é uma condição comum em bebês, relacionada à imaturidade das vias lacrimais de excreção, mais especificamente devido à imperfuração da válvula de Hasner na porção inferior do ducto nasolacrimal.

Trata-se da anormalidade congênita mais frequente no sistema lacrimal e pode acometer até 30% dos recém-nascidos.  A resolução espontânea ocorre em até 90% dos casos nos primeiros meses de vida.

Durante esse período, recomenda-se tratamento conservador, como a massagem de Crigler, higiene ocular e, se necessário, uso de colírios antibióticos.

Causas da Obstrução Parcial do Canal Lacrimal

A principal causa da obstrução congênita do ducto nasolacrimal (OCDNL) em recém-nascidos é a imperfuração da válvula de Hasner. A válvula de Hasner está localizada na porção distal do ducto nasolacrimal, exatamente onde o ducto desemboca na cavidade nasal, abaixo do corneto inferior.

Essa válvula funciona como uma espécie de membrana unidirecional, permitindo que as lágrimas drenadas dos olhos sigam seu fluxo natural em direção à cavidade nasal, sem que o ar ou secreções nasais retornem pelo ducto.

Entretanto, outras variações da obstrução podem dificultar o diagnóstico e manejo clínico, como:

  • Tampão mucoso: acúmulo de células descamadas que obstruem o ducto.
  • Estenose do canalículo de união lacrimal.
  • Obliteração osteolacrimal: presença do corneto inferior obstruindo o ducto.
  • Sinéquias extensas: aderências que impedem o fluxo normal das lágrimas.

Principais Sintomas da Obstrução Parcial do Canal Lacrimal

Os sintomas mais comuns da obstrução do canal lacrimal (impermeabilidade nasolacrimal), especialmente em bebês, incluem:
  1. Lacrimejamento excessivo (epífora): As lágrimas acumulam-se constantemente nos olhos, mesmo quando o bebê não está chorando.
  2. Acúmulo de secreção nos olhos: A secreção amarelada ou esbranquiçada é frequente, especialmente após o bebê acordar.
  3. Olhos constantemente úmidos: A presença de lágrimas na superfície ocular e nas pálpebras é perceptível.
  4. Conjuntivite recorrente: Infecções oculares leves que não desaparecem completamente ou voltam com frequência, apesar do uso de colírios.
  5. Secreção nos cílios: A secreção pode secar e formar crostas nos cílios, dificultando a abertura das pálpebras, especialmente ao acordar.
  6. Inflamação na região do saco lacrimal: Em casos mais graves, pode ocorrer dacriocistite, uma inflamação dolorosa com inchaço na região interna próxima ao nariz.Esses sintomas geralmente aparecem em um dos olhos (unilateral), mas podem ser bilaterais em alguns casos.

Diagnóstico: Como Identificar a Obstrução

O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado nos sintomas e no exame físico. Em casos mais persistentes ou graves, pode ser necessário realizar a sondagem do ducto lacrimal.

Tratamentos para Obstrução Parcial do Canal Lacrimal

O tratamento inicial para a obstrução do canal lacrimal em bebês é conservador e busca estimular a desobstrução espontânea, que ocorre em até 90% dos casos nos primeiros meses de vida. A seguir estão as principais medidas recomendadas:

Tratamento Inicial: Massagem de Crigler

A massagem digital no saco lacrimal (manobra de Crigler) é a principal abordagem no tratamento inicial. Essa técnica estimula a abertura da válvula de Hasner ao aplicar uma pressão controlada na região do saco lacrimal.

Como realizar a massagem:

  • Localização: Encontre o canto interno do olho (próximo ao nariz).
  • Movimentos: Com os dedos limpos, faça movimentos suaves e firmes de cima para baixo, iniciando na região do saco lacrimal e seguindo em direção à base do nariz.
  • Frequência: Repita de 5 a 10 vezes, 3 a 4 vezes ao dia.
  • Objetivo: A pressão ajuda a liberar o conteúdo acumulado e a abrir o ducto lacrimal.

A massagem deve ser orientada por um oftalmopediatra para garantir que os pais a realizem corretamente.

Higiene Ocular

Manter os olhos do bebê limpos é fundamental para evitar infecções secundárias. Recomenda-se:
  • Lavagem diária: Utilize soro fisiológico 0,9% para higienizar os olhos.
  • Remoção de secreções: Use gaze esterilizada (uma para cada olho) para limpar as secreções acumuladas suavemente.
  • Frequência: Sempre que necessário, principalmente ao acordar.

Uso de Colírios Antibióticos (em casos de infecção)

Se houver sinais de infecção secundária (secreção amarelada espessa, conjuntivite), o médico pode prescrever colírios antibióticos.
  • Objetivo: Controlar a infecção e reduzir a inflamação local.
  • Importante: Os colírios são apenas paliativos, não resolvem a obstrução em si.

Evolução e Observação

  • Nos primeiros 3 a 6 meses de vida, aguarda-se a evolução espontânea com massagem e higiene.
  • A melhora dos sintomas pode ocorrer com o aumento da pressão no ducto lacrimal provocado pelo choro ou espirros, abrindo naturalmente a válvula de Hasner.
  • Caso os sintomas persistam após os 6 a 12 meses, o tratamento cirúrgico (sondagem) deve ser considerado.

Tratamento com Sondagem Lacrimal

A sondagem do canal lacrimal é um procedimento simples, rápido e, geralmente, dispensa anestesia geral. Recomenda-se que seja realizada por volta dos 12 meses de vida, quando a obstrução persiste.

Estudos demonstram altas taxas de sucesso para a sondagem em diferentes faixas etárias, incluindo crianças mais velhas.

Em relação às diretrizes do Pediatric Eye Disease Investigator Group (PEDIG), um estudo randomizado comparou a sondagem precoce (antes de 12 meses) com a tardia (após 12 meses) e não encontrou diferença significativa nas taxas de sucesso entre os grupos.

Isso sugere que a idade pode não ser um fator determinante para o sucesso do procedimento. Portanto, a decisão sobre o momento ideal para a sondagem deve considerar fatores como a gravidade dos sintomas, a resposta ao tratamento conservador e a experiência do cirurgião.

É fundamental avaliar cada caso individualmente para determinar a melhor abordagem terapêutica.

A lavagem do ducto lacrimal com cânula, embora possível, é menos utilizada devido a resultados menos satisfatórios e a riscos adicionais.

Evolução Espontânea e Prognóstico

Cerca de 80% a 90% dos casos de obstrução parcial do canal lacrimal resolvem-se de forma espontânea. Entre as 4 e 6 semanas de vida, a melhora dos sintomas pode ser observada devido à abertura natural da válvula de Hasner, estimulada pela pressão gerada pelo choro ou espirros.

Essa resolução espontânea é mais comum até os 3 meses de idade, mas torna-se progressivamente rara após o primeiro ano de vida.

Casos mais complexos

Quando há obstruções severas ou malformações congênitas mais complexas, o tratamento pode exigir procedimentos adicionais, como a Dacriocistorrinostomia (DCR) que consiste em uma cirurgia para criar uma nova via de drenagem lacrimal (raro em bebês). Nesses casos, o acompanhamento oftalmológico especializado é essencial para garantir os melhores resultados.

Complicações Raras

 Se não tratada adequadamente, a obstrução pode evoluir para:
  • Dacriocistite: inflamação do saco lacrimal com inchaço, dor e secreção purulenta.
  • Conjuntivites crônicas: infecções recorrentes.
  • Ceratite: em casos extremos, a superfície ocular pode ser afetada.

Dicas para os Pais: Como Lidar com a Obstrução

Se o seu bebê apresenta lacrimejamento constante e secreção nos olhos, procure um oftalmologista pediátrico. Na maioria dos casos, o quadro melhora de forma natural, mas o acompanhamento médico é essencial para garantir o diagnóstico correto e, se necessário, realizar o tratamento apropriado.
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