Retinoblastoma: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

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O retinoblastoma é o tumor maligno intraocular mais comum na infância, com incidência estimada em 1 caso para cada 15.000 a 20.000 nascidos vivos. Essa neoplasia primária da retina, predominantemente diagnosticada em crianças menores de 5 anos, representa um desafio clínico e terapêutico pela sua potencial gravidade e impacto na qualidade de vida dos pacientes.

Etiologia e Genética

O retinoblastoma é causado por mutações no gene RB1, localizado no cromossomo 13q14, que codifica uma proteína supressora de tumor.

Forma hereditária (40% dos casos):

  • Caracteriza-se pela mutação germinativa em uma cópia do gene RB1, herdada ou ocorrendo de novo.
  • Afeta frequentemente ambos os olhos (bilateralidade) e está associada a maior risco de tumores secundários, como osteossarcoma e melanoma.

Forma esporádica (60% dos casos):

  • Envolve mutações somáticas em ambas as cópias do gene RB1 na retina.
  • Geralmente, é unilateral e não tem risco aumentado para tumores sistêmicos.

A predisposição genética sublinha a importância do aconselhamento genético em famílias com histórico de retinoblastoma, especialmente em pacientes com a forma bilateral.

Epidemiologia

Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP), o retinoblastoma representa 3% dos cânceres pediátricos e 14% dos cânceres em crianças menores de 2 anos no Brasil. O diagnóstico tardio ainda é uma realidade em países em desenvolvimento, comprometendo as chances de cura e aumento da morbimortalidade.

Estatísticas Globais:

  • Incidência Mundial: Estima-se que ocorram cerca de 8.000 novos casos de retinoblastoma anualmente em todo o mundo, com a maioria dos casos concentrados em países de baixa e média renda.
  • Taxas de Sobrevivência: As taxas de sobrevida em 3 anos variam significativamente conforme o nível de renda dos países:

– Países de alta renda: 99,5%

– Países de renda média-alta: 91,2%

– Países de renda média-baixa: 80,3%

– Países de baixa renda: 57,3% 

Estatísticas no Brasil:

  • Incidência Nacional: No Brasil, estima-se que ocorram entre 400 e 600 novos casos de retinoblastoma por ano.
  • Faixa Etária: A maioria dos casos é diagnosticada em crianças menores de 2 anos, representando cerca de 66,7% dos casos, enquanto apenas 5% ocorrem em pacientes com mais de 5 anos.
  • Perfil Epidemiológico: Estudos regionais indicam que a idade média ao diagnóstico é de 1,7 anos, com predomínio do sexo feminino (50,5%) e maior incidência em áreas rurais (57,4%), associadas a estágios tumorais mais avançados.

Quadro Clínico

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O retinoblastoma é assintomático em estágios iniciais, o que torna os sinais precoces essenciais para o diagnóstico:

  • Leucocoria (reflexo pupilar branco): O sinal mais comum e frequentemente detectado em fotografias ou no teste do reflexo vermelho (Teste do Olhinho).
  • Estrabismo: O desalinhamento ocular ocorre em casos avançados, devido à perda da visão no olho afetado.
  • Sintomas adicionais: Dor ocular, fotofobia, lacrimejamento e aumento do globo ocular (buftalmo) são indicativos de doença avançada.

Segundo dados do PEDIG (Pediatric Eye Disease Investigator Group), a leucocoria está presente em mais de 60% dos casos diagnosticados.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é crucial para aumentar as taxas de sobrevivência (superior a 95% em casos detectados precocemente) e preservar a visão.

Exames clínicos e complementares:

  • Teste do Olhinho (reflexo vermelho): Deve ser realizado em todos os recém-nascidos e repetido periodicamente nos primeiros anos de vida. A ausência do reflexo é um sinal de alerta.
  • Exames oftalmológicos: Avaliação sob anestesia com mapeamento de retina, ultrassonografia ocular e fundoscopia são fundamentais.
  • Imagem de alta resolução: A ressonância magnética é preferida em relação à tomografia para evitar exposição à radiação em crianças, auxiliando na detecção de invasão extraocular e intracraniana.

Genética molecular:

A análise do gene RB1 é recomendada para identificar mutações germinativas em pacientes e familiares, contribuindo para a detecção precoce em irmãos e futuros descendentes.

Tratamento

O manejo do retinoblastoma é multidisciplinar e varia de acordo com o estágio da doença (classificação do Grupo Internacional de Retinoblastoma – IRSS).

Modalidades de tratamento:

  • Quimioterapia sistêmica ou intra-arterial: Reduz o volume tumoral, permitindo a aplicação de terapias focais. A quimioterapia intra-arterial (administração diretamente na artéria oftálmica) tem mostrado alta eficácia com menos efeitos colaterais sistêmicos
  •  Terapias locais:

– Crioterapia: Indicada para pequenos tumores periféricos.

– Fotocoagulação a laser: Utilizada em tumores menores localizados na retina.

– Braquiterapia: Aplicação de placas radioativas diretamente sobre a esclera, eficaz para tumores maiores.

  •  Enucleação: Indispensável em casos avançados sem possibilidade de preservação visual ou com invasão extraocular.

Avanços terapêuticos: novas abordagens, como terapia genética e imunoterapia, estão sendo estudadas e podem revolucionar o tratamento no futuro.

Conscientização e Impacto Social

Casos como o da filha do apresentador Tiago Leifert, diagnosticada com retinoblastoma aos 11 meses, trouxeram visibilidade à importância do diagnóstico precoce. A campanha “De Olho nos Olhinhos” reforça o papel do Teste do Olhinho e a atenção aos sinais de alerta, incentivando pais a buscarem acompanhamento oftalmológico para seus filhos. Tiago e sua esposa, Daiana Garbin, relataram o impacto emocional e a urgência do diagnóstico, destacando que muitos casos de retinoblastoma são detectados tardiamente no Brasil, comprometendo o prognóstico.

Recomendações das Sociedades Médicas

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP) e do PEDIG enfatizam:

  • A realização do Teste do Olhinho nas primeiras 72 horas de vida; esse teste deve ser repetido regularmente até os 3 anos de idade.
  • Encaminhamento imediato ao oftalmologista em caso de leucocoria ou estrabismo.
  • Avaliação oftalmológica periódica para crianças com histórico familiar de retinoblastoma.

Segundo o CBO e a SBOP, o acesso ao diagnóstico precoce é uma das principais estratégias para reduzir a mortalidade e preservar a visão em crianças.

Conclusão

O retinoblastoma é uma doença grave, mas com altas chances de cura quando diagnosticado precocemente. O Teste do Olhinho, campanhas de conscientização e avanços no tratamento têm desempenhado papéis fundamentais na redução da mortalidade e morbidade associadas ao tumor.

Para mais informações, consulte um oftalmologista especializado em oftalmopediatria.

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