Síndrome do Olho Seco: Causas, Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

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A síndrome do olho seco é uma das condições oculares mais comuns na prática oftalmológica e afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a prevalência global do olho seco varie de 5% a 50%, dependendo da faixa etária e da localização geográfica.

Essa condição impacta significativamente a qualidade de vida, podendo interferir no trabalho, nas atividades diárias e no conforto visual.

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O que é a Síndrome do Olho Seco?

A Síndrome do Olho Seco, também chamada de doença do olho seco (DED – Dry Eye Disease), é uma condição multifatorial da superfície ocular que ocorre devido à insuficiência na produção de lágrimas ou à evaporação excessiva das lágrimas.

O filme lacrimal é composto pelas camadas aquosa, mucosa e lipídica. O olho seco é, portanto, uma alteração do filme lacrimal que pode comprometer a integridade da superfície ocular e que ocorre por evaporação excessiva de lágrimas ou por deficiência na sua produção.

O olho seco pode ocorrer em decorrência da baixa produção lacrimal – acometimento ocular primário ou secundário a doenças sistêmicas – ou, ainda, em decorrência da perda acelerada do filme lacrimal (forma evaporativa).

Sendo assim, a Síndrome do Olho Seco é classificada em dois subtipos principais:

  1. Deficiência na Produção Lacrimal: Quando as glândulas lacrimais não produzem lágrimas suficientes.
  2. Olho Seco Evaporativo: Causado pela disfunção das glândulas de Meibômio, responsáveis pela camada lipídica que impede a evaporação das lágrimas.

Ambos resultam em inflamação e danos à superfície ocular, causando sintomas como desconforto, visão embaçada e sensação de areia nos olhos.

Causas do Olho Seco

O olho seco pode ser causado por diversos fatores, que muitas vezes coexistem, agravando o quadro. Entre as principais causas, destacam-se:

  1. Envelhecimento: A produção lacrimal diminui naturalmente com a idade. Estima-se que 75% das pessoas acima de 65 anos apresentam algum grau de olho seco.
  2. Uso Prolongado de Dispositivos Eletrônicos: O tempo prolongado em frente a telas (computadores, tablets e smartphones) reduz a frequência do piscar, o que aumenta a evaporação das lágrimas.
  3. Alterações Hormonais: Alterações hormonais, especialmente em mulheres na menopausa, podem reduzir a produção lacrimal. Mulheres são duas vezes mais propensas a desenvolver olho seco em comparação aos homens.
  4. Condições Ambientais: Exposição ao ar condicionado, vento, poluição e climas secos aumenta a evaporação lacrimal.
  5. Doenças Sistêmicas: Doenças autoimunes, como a Síndrome de Sjögren, artrite reumatoide e lúpus, estão frequentemente associadas à deficiência lacrimal.
  6. Uso de Medicamentos: Alguns medicamentos podem reduzir a produção de lágrimas, como:
  •  Antidepressivos.
  • Anti-histamínicos.
  • Betabloqueadores.
  • Contraceptivos orais.
  1. Disfunção das Glândulas de Meibômio: Cerca de 86% dos casos de olho seco estão relacionados à disfunção das glândulas de Meibômio, que produzem a camada lipídica da lágrima.
  2. Cirurgias Oculares: Procedimentos como LASIK ou PRK podem alterar a sensibilidade da córnea e reduzir a produção lacrimal temporariamente.

Sintomas do Olho Seco

Os sintomas podem variar de leves a graves, dependendo da causa e da gravidade da doença. Os mais comuns incluem:

  • Sensação de areia ou corpo estranho nos olhos.
  • Vermelhidão ocular.
  • Ardência ou queimação.
  • Visão embaçada, especialmente após longos períodos de leitura ou uso de telas.
  • Sensibilidade à luz (fotofobia).
  • Lacrimejamento reflexo (ironicamente, o olho tenta compensar a secura com produção excessiva de lágrimas, mas sem qualidade adequada).
  • Desconforto ao usar lentes de contato.

Em casos graves, a inflamação e o ressecamento crônicos podem levar a danos permanentes à córnea.

Diagnóstico do Olho Seco

O diagnóstico do olho seco exige uma abordagem detalhada, que combina a história clínica do paciente, exames físicos e testes especializados. Os principais métodos incluem:

  1. Anamnese Detalhada

Avaliação dos sintomas, histórico médico e exposição a fatores de risco.

  1. Testes Diagnósticos

  • Teste de Schirmer: Mede a produção lacrimal utilizando tiras de papel filtro colocadas sob a pálpebra inferior. Valores abaixo de 10 mm em 5 minutos indicam deficiência lacrimal.
  • Tempo de Ruptura do Filme Lacrimal (TBUT): Avalia a estabilidade do filme lacrimal. Um TBUT inferior a 10 segundos sugere olho seco evaporativo.
  • Corantes Oculares: Coloração com fluoresceína ou rosa bengala para identificar áreas de ressecamento ou danos na superfície ocular.
  • Meibografia: Imagem das glândulas de Meibômio para avaliar alterações estruturais.

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Foto que demonstra coloração da conjuntiva e terço inferior da córnea com corante Rosa Bengala em paciente portador de Olho Seco.

  1. Marcadores Inflamatórios

  • Testes rápidos como o InflammaDry detectam a presença de metaloproteinases de matriz (MMP-9), um marcador de inflamação ocular.

Tratamento do Olho Seco

O tratamento do olho seco é individualizado, considerando a causa e a gravidade da condição. Ele pode incluir medidas não farmacológicas, medicamentos e intervenções clínicas.

  1. Medidas Não Farmacológicas

  • Higiene Palpebral: Compressas mornas e limpeza regular das pálpebras para melhorar a função das glândulas de Meibômio.
  • Evitar Ambientes Desfavoráveis: Usar umidificadores em ambientes secos e proteger os olhos com óculos ao ar livre.
  • Piscar Conscientemente: Incentivar pausas durante o uso de telas para evitar a evaporação lacrimal.
  1. Colírios e Suplementos

  • Lágrimas Artificiais: Alívio imediato para os sintomas. Disponíveis em formulações com ou sem conservantes.
  • Anti-inflamatórios: Colírios à base de ciclosporina (Restasis) ou lifitegraste (Xiidra) reduzem a inflamação ocular crônica.
  • Ácidos Graxos Ômega-3: Suplementos de óleo de peixe podem melhorar a função das glândulas lacrimais.
  1. Tratamentos Clínicos

  • Oclusão de Pontos Lacrimais: Inserção de plugs nos canais lacrimais para reter as lágrimas na superfície ocular.
  • Luz Pulsada Intensa (IPL): Terapia que melhora a função das glândulas de Meibômio.
  • Soros Autólogos: Colírios feitos a partir do próprio sangue do paciente são indicados para casos graves.

Inserção de Plug Lacrimal de silicone para tratamento do Olho Seco

Inserção de Plug Lacrimal de silicone para tratamento do Olho Seco.

Plug Lacrimal aplicado. cob oftalmologia

Plug Lacrimal aplicado.

  1. Casos Especiais

  • Síndrome de Sjögren: Requer manejo multidisciplinar, incluindo oftalmologistas e reumatologistas.
  • Pós-LASIK: Uso intensivo de lágrimas artificiais e, em alguns casos, corticoides tópicos de curta duração.

Úlcera trófica em paciente com Sjögren cob oftalmologia

Úlcera trófica em paciente com Sjögren.

Complicações do Olho Seco

Se não tratado, o olho seco pode causar complicações graves, como:

  • Danos na Córnea: Ulcerações ou infecções que podem comprometer a visão.
  • Sensibilidade Ocular Crônica: Alterações na sensibilidade nervosa, tornando o tratamento mais difícil.I
  • Impacto Psicológico: Sintomas crônicos podem levar à ansiedade, depressão e redução na qualidade de vida.

Ceratite Puntacta Difusa em paciente com Olho Seco cob oftalmologia

Imagem que demonstra Ceratite Puntacta Difusa em paciente com Olho Seco. Avaliação feita com corante fluoresceína e luz com filtro azul de cobalto.

Prevenção

Embora nem todos os casos de olho seco sejam preveníveis, algumas medidas podem reduzir o risco:

  • Limitar o uso prolongado de telas e adotar a regra 20-20-20 (a cada 20 minutos, olhar para algo a 20 pés de distância por 20 segundos).
  • Manter hidratação adequada.
  • Evitar o uso indiscriminado de colírios com conservantes.
  • Realizar consultas oftalmológicas regulares, especialmente em pacientes com fatores de risco.

Conclusão

A síndrome do olho seco é uma condição multifatorial e desafiadora, mas avanços no diagnóstico e nas opções terapêuticas permitem um manejo eficaz na maioria dos casos. Reconhecer os sinais precocemente e buscar orientação oftalmológica são passos fundamentais para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida.

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